Para quem faz estação de monta uma das decisões mais importantes é a escolha da estratégia que será utilizada na propriedade diante das condições específicas de cada período. Muita informação é propagada sobre a adoção, em larga escala, de protocolos e de tecnologias de reprodução disponíveis, como ferramenta para alcançar níveis satisfatórios na concepção e na taxa de prenhez, mas há fazendas de criação que conseguem resultados interessantes com um sistema de manejo mais próximo do que seria considerado natural para os bovinos. A Carpa Serrana, reconhecida por ser pioneira e bem sucedida no emprego de inseminação artificial (IA), transferência de embriões (TE) e fecundação in vitro (FIV) no plantel PO, mantém o rebanho de fêmeas comerciais em uma condição mais próxima da realidade de quase toda a pecuária extensiva do Brasil. Estamos falando de 11 mil matrizes da raça Nelore que são entouradas anualmente na Fazenda Cibrapa, no Vale do Araguaia, estado de Mato Grosso. Fora as novilhas de primeira cria, as exceções que recebem um tratamento diferenciado, a vacada de segunda cria e as multíparas, tem que provar seu valor e corresponder ao que se espera de uma raça zebuína em termos de eficiência, rusticidade e produtividade em um sistema sustentável e econômico.
Para apoiar o sucesso desse manejo, o criatório procura ter um suporte forrageiro linear ao longo do ano. A implantação de áreas de Integração Lavoura e Pecuária (ILP) – que a cada safra potencializa o valor nutricional das pastagens, mais a produção de silagem e a de feno de capim, mantém o suprimento estratégico para todas as categorias. “As novilhas, por exemplo, que tem maior demanda nutricional, passam o inverno pastejando nas áreas de ILP. Em setembro, quando as áreas são fechadas para o novo ciclo da soja, elas vão para o confinamento, onde recebem silagem e suplementação até que os pastos convencionais estejam em condições para recebê-las. Esse movimento que chamamos de ‘sequestro’ e todo o manejo garantem que as tenham uma condição adequada para serem entouradas e levarem a gestação até o final. Nós já trabalhamos com a silagem de capim desde 1993 e há um ano estamos também com a produção de feno. Conseguimos manter um estoque de 13 mil toneladas de silagem e 5 mil toneladas do volumoso. Usamos as cultivares mombaça e brachiaria ruziziensis e elas se desenvolveram muito bem pois são cultivadas nas áreas de soja, o que representa custo zero em nitrogênio já que contamos com o residual da lavoura de grãos.”, explica o gerente da Cibrapa, Marcos Junqueira Cardoso.
No geral, a estação de monta na Cibrapa acontece de outubro a fevereiro e, consequentemente, os nascimentos se concentram entre agosto e dezembro. O projeto usa, exclusivamente, reprodutores Carpa para entourar as fêmeas. Vão para o serviço os reprodutores das gerações mais jovens, que já atingiram idade reprodutiva. Além de serem apartados visualmente pelo biotipo funcional e pela avaliação genética, os animais são submetidos a exames andrológico e ultrassonografia. “Toda a geração de touros Carpa serve o rebanho comercial em, pelo menos, uma temporada. Isso garante que as novas gerações de reprodutores, que representam o topo do melhoramento da nossa seleção, deixem sua carga genética no rebanho comercial antes de serem vendidas. A Carpa é o maior cliente dela mesma”, diz o criador Eduardo Biagi.
Portanto, ao priorizar e reforçar o conceito tradicional do tripé ‘manejo, nutrição e genética’, a Carpa sustenta a lucratividade do negócio pecuário como especialista no segmento de cria. “Em uma condição desafiadora e com muitas variáveis, mantemos a taxa de prenhez em torno dos 80%. As desmamas tem pesado em média 230 quilos para os machos e 210 para as fêmeas, sem uso de creep feeding.
Percebemos que a qualidade dos bezerros é superada a cada nova safra, inclusive pela resposta do mercado. Esse ano, no Leilão Mega Carpa, vendemos 3 mil cabeças e a remuneração foi de R$ 7,00 por quilo vivo dos bezerros”, explica o gerente de pecuária da Carpa, Luis Otávio Pereira Lima que demonstrando estímulo renovado comemora as perspectivas de futuro. “Nossos índices variam de acordo com a distribuição das chuvas. Nos últimos anos elas atrasaram no Vale do Araguaia, mas dessa vez as condições são favoráveis, por isso esperamos uma safra muito boa, acima da média”, diz Luis Otávio.